Participar do Poder Escolar tornou-se um aprendizado anual cujos momentos são reservados para refletir sobre as nossas práticas enquanto educadoras. Essa importância em relação a este evento tomou outra dimensão no momento em que, em 2008, fomos convidados - alunos e professores – a participar de um momento único “A Voz dos Estudantes”.
Em princípio, quando fomos convidados para a 1ª reunião, questionei o que seria essa mesa, o que se abordaria, enfim muitas questões, poucas respostas, uma vez que se constituía um projeto e como todo o projeto começa com uma “cara” e só vai adquirindo a formato desejado pelos componentes com o tempo.
Continuamos as reuniões e um objetivo era de consenso no grupo: proporcionar aos educandos um espaço deles, um espaço em que eles tivessem vez e voz.
Face ao exposto, o trabalho continuou até o momento do evento. Dia em que todos os participantes desse projeto, alunos e professores mostravam-se ansiosos, afinal como seriam os educandos recebidos? Como os professores que coordenavam esse projeto nas escolas seriam vistos?
Chegado o dia da mesa. Palestra do professor Skliar (excelente palestra, por sinal) e, logo em seguida, formação da mesa com os alunos selecionados nas escolas.
Alguns impasses iniciais, e os alunos fizeram suas perguntas e sem respostas imediatas, as questões foram-lhes, algumas vezes, devolvidas para que eles mesmos respondessem. Essas e outras posturas demonstraram a presença de espírito do debatedor à época, mostrando-nos que, diante das perguntas, ao invés de darmos as respostas, nós, educadores, temos o dever de instigar nosso aluno a sair de sua escuta passiva, a participar dos debates suscitados, a refletir, enfim, é nosso papel conduzir a discussão para que as respostas sejam provocadas nos alunos.
Percebemos, ao final, o sucesso do evento e resolvemos, desde então, dar continuidade ao projeto e preparar a 2ª mesa “A Voz dos Estudantes”, pois vimos o quão importante foi para os discentes.
Não imaginávamos, diante do sucesso do evento, que enfrentaríamos tantas dificuldades para a continuidade dessa atividade, para trabalhar as questões nas escolas e, principalmente, a resistência em fazer valer o espaço conquistado pelos educandos, em dar-lhes liberdade de falar.
Questionávamo-nos de como faríamos para envolver aos demais colegas das escolas, mas quaisquer tentativas eram infrutíferas, o que fazia sentirmo-nos cada vez mais sós.
Pudemos observar também que, no ano passado, apenas dois alunos por escola deveriam participar, e oito escolas foram convidadas. Agora, infelizmente, temos menos escolas efetivamente participando, mas um aumento no número de alunos, o que evidencia a importância deste trabalho para eles, uma vez que perceberam que uma semente foi lançada, um paradigma quebrado e, cabe a nós, juntamente com esses educandos que falam, continuarmos nesta caminhada, embora questões como essas desacomodem, incomodem, mas, certamente, promovem e proporcionam muita alegria, já que somos educadores por escolha e temos, pois, uma função social.
Mesmo diante de todos esses entraves, não desanimamos, continuamos! Estamos aqui, hoje, pois seria inadmissível uma ruptura em uma ação como esta que traz a oportunidade de uma nova educação; constitui-se um processo de cada um de nós, é o nosso crescimento. É a oportunidade de contribuir com a expectativa de nossos alunos em aprender de uma nova maneira algo novo na vida deles.
Assim, é imprescindível destacar que o que está em jogo neste Poder, não é só a formação do professor e do aluno, é a autoformação “humana”, pois como afirma Nóvoa 'ninguém forma ninguém'; a formação é inevitavelmente um trabalho de reflexão sobre os percursos de vida.
Nesse contexto, ao participarmos desse projeto, evidencia-se, portanto, essa formação, por meio da reflexão de nossas experiências com nossos educandos e com nossos pares, pois como afirmou Cecília Waschauer em sua fala, aqui mesmo neste teatro, “é preciso criar um espaço na rotina da escola e no trabalho dos professores para que possamos nos formar através da experiência”. Ela vai além, afirma que “a complexidade da formação, assim como da vida, está no diálogo entre os diferentes.”
A satisfação em realizar este trabalho com vocês para a realização desta mesa constituiu-se algo ímpar, não há como medir a alegria que tive em ver como vocês se sentiram em participar de um momento no qual foram vocês os protagonistas. Fiquei muito orgulhosa. Parabéns!
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